terça-feira, 14 de julho de 2009

Elegia contra Babel

Hoje rebelei-me contra ti
lugar seco de minha deportação
(in)voluntária
Babilónia de todos os
esbulhos e perdas pessoais

Lembrei uma vez mais
teu destino individual
Que conforme desapossaste
serás também despojada

Não me dominas
o desejo
nem o pensamento
Não temos sociedade
senão aparente

A ti que continuamente
te embriagas de
escarnecedor e
destrutivo néctar
não passando de vulgar
meretriz
que procede a seu comércio
enquanto 'inda resta tempo

a transeuntes apressados
descuidados em sua jornada
se vendendo

Toda a violência
feita a mim
e à minha carne
te sobrevenha eternamente
ó Babel

Recaia meu sangue
como memorial perpétuo
sobre teus idólatras
moradores
sobre quem te comprar

Seja defendida a minha
causa
desatado o gemido
da minha posteridade
vingada a desonra
do meu deserto
Seque-se teu mar
esgote-se teu manancial
de corrupções e iniquidade

Sejas para sempre feita
monte de destroços
morada permanente de dragões
susto
pavor
assobio

sem um único habitante
em tuas entranhas
de escaldante peçonha

Quando andares saltitando
entusiasmada
despreocupada
devido à excitação
causada p'lo fermento do teu cálice

cairás em profunda sonolência
e não retornarás
à terra dos viventes


Fujam dela os que resistem ainda
muralhados!

Corram por suas vidas
os que têm escapado da espada
e não se detenham no caminho
De longe lembrem-se
do Senhor
Suba a vossos corações
a memória da Santa Cidade


De cima, de cima
do Norte
à Prostituta chegam já
avisados destruidores!

Vejo vultos
arrastados
sobre suas ameias
movendo-se sobrenaturalmente
sem que alguém os detenha
No meio dela farão cair
trespassados de toda a Terra

Percebe-se de longe
um ruído

É som de entulho
despejado
em cósmica vala
comum

Caem escombros
das portentosas muralhas
Seus espessos portões
queimados são
a fogo invisível

Ouve-se o crepitar da
sua chama


«Ainda que Babilónia ascendesse
aos céus
e fortalecesse sua
fortaleza
de Mim procederiam
destruidores
sobre ela»
diz ó Sião
teu Perene Defensor

Nem príncipes
nem sábios
nem profetas
nem juízes
nem valentes
lhe valerão nesse Dia

Pois todos juntamente
acometidos serão
por pesado sono
mortífero
que lhes há-de arrastar a consciência
para cruenta masmorra
infernal
donde jamais regressarão

Todos mutuamente agrilhoados
em grande abismo
mergulhados

Todas as suas forças
para sempre esgotadas
Todos os seus planos
num momento
interrompidos







domingo, 12 de julho de 2009

Geração Arónica com Dias Contados


«Não se deixem levar pelos diversos ensinos estranhos. É bom que o nosso coração seja fortalecido pela Graça, e não por alimentos cerimoniais, os quais não têm valor para aqueles que os comem. Nós temos um altar do qual não têm direito de comer os que ministram no tabernáculo. O sumo sacerdote leva sangue de animais até o Santo dos Santos, como oferta pelo pecado, mas os corpos dos animais são queimados fora do acampamento. Assim, Jesus também sofreu fora das portas da cidade, para santificar o povo por meio do seu próprio sangue. Portanto, saiamos até ele, fora do acampamento, suportando a desonra que ele suportou. Pois não temos aqui nenhuma cidade permanente, mas buscamos a que há-de vir.» Hb. 13:9-14


«(...)"Eu sou o pão da vida. Os seus antepassados comeram do maná no deserto, mas morreram. Todavia, aqui está o pão que desce do céu, para que não morra quem dele comer. Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Se alguém comer deste pão, viverá para sempre. Este pão é a minha carne, que eu darei pela vida do mundo."

Então os judeus começaram a discutir exaltadamente entre si: "Como pode este homem nos oferecer a sua carne para comermos?" Jesus lhes disse: "Eu lhes digo a verdade: Se vocês não comerem a carne do Filho do homem e não beberem o seu sangue, não terão vida em si mesmos. Todo aquele que come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida. Todo aquele que come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. Da mesma forma como o Pai que vive me enviou e eu vivo por causa do Pai, assim aquele que se alimenta de mim viverá por minha causa. Este é o pão que desceu dos céus. Os antepassados de vocês comeram o maná e morreram, mas aquele que se alimenta deste pão viverá para sempre." Ele disse isso quando ensinava na sinagoga de Cafarnaum. Ao ouvirem isso, muitos dos seus discípulos disseram: "Dura é essa palavra. Quem pode suportá-la"(...) Daquela hora em diante, muitos dos seus discípulos voltaram atrás e deixaram de segui-lo.» Jo. 6:48-60,66





Já tomou hoje a sua dose de "alimento cerimonial"? Já foi hoje "saciado" por "comida" confeccionada e fornecida em "tabernáculo" modernamente montado por homens menos que ingénuos ou inescrupulosos? Se não foi, não desespere! Saiba que esse tipo de alimento espiritual não é necessário para o seu desenvolvimento enquanto pessoa humana. Pelo contrário, poderá mesmo vir a ser fatal para a réstia de humanidade que teima ainda em brilhar dentro de si.

No dizer do autor da carta aos Hebreus, o altar que hoje se encontra à nossa disposição, é, de facto, realidade de muitíssimo melhor natureza, dele não podendo alimentar-se quem serve ainda, de forma idólatra e avara, ao "tabernáculo" de homens poderosos ou com ambição de Poder... Melhor, muitíssimo mais saborosa e susceptível de dar fruto infinitamente.

Jesus, não o do sacrifício individual pelo pecado de todos, nas palavras dos que, ao seu tempo, detinham o Poder Religioso (João 18:14), não o Poderoso Senhor urdido pela imaginação de outros tantos poderosos opressores dos mais incautos, a quem titularam de Cristo, não o suposto fundador de uma religião a que convencionaram chamar Cristianismo, ou apenas mais um vulgar instituidor de cúpulas hierarquizadas e hierarquizantes, mas o homem cem por cento humano, histórico, sinal da eterna Presença divina, do Sopro do Espírito Santo na história humana, cuja vivência começou por manifestar aquele que haveria, que há-de ser o paradigma do Homem Perfeito aos olhos de Deus, (não necessariamente aos olhos humanos), que se "semeou" a si mesmo na Terra a fim de poder "dar fruto" em abundância, que é dizer, a fim de dar origem a uma infinita multiplicidade de filhos e filhas, que, chegados à idade da Razão, à maioridade plena, abandonando para sempre toda a infantilidade e adolescência de entendimento, carreguem em si mesmos a imagem de Deus, soltando os que, ainda cativos pela má consciência do errar permanente do alvo, se acham impedidos de olhar directa, detida e profundamente nos olhos do Pai de todos os espíritos, de filhos e filhas que caminhem no Amor em si continuamente soprado e aperfeiçoado pelo Espírito de Deus, e encham a Terra de Justiça e Paz para todos, por igual, esse Jesus, a quem os Poderes Religioso e Político condenaram e assassinaram mancomunadamente, abriu-nos o caminho.

Na verdade, o exemplo deste Jesus histórico, perfeitamente contextualizado no espaço e no tempo, é de tal ordem ultrajante para todos os que ambicionam, ainda hoje, o Poder nos seus diferentes matizes e contornos - Económico, Político e/ou Religioso, e para a pretensa sabedoria humana, que não se contentando em pregá-lo numa cruz e em afirmá-lo como sacrifício de um só homem por todos os homens, têm ainda feito dele o fundador do Cristianismo e o instituidor de cúpulas e hierarquias eclesiásticas, quando ele mesmo advertiu que a ninguém positivamente se distinguisse, chamando Mestre, Pai, Bispo, Pastor ou atribuindo qualquer outro título, mas que quem quisesse ser efectivamente o maior no Reino de Deus, fosse como o menor e mais insignificante dos servos (Mateus 23: 8-12; Marcos 9:33-37). Não se bastou, contudo, com as palavras. A sua vida foi vivida como se de efectiva morte se tratasse, servindo como o mais irrelevante, desprezado e, até ridicularizado de todos os homens. Porque era louco ou, pelo menos, assim era considerado, inclusive por muitos dos que o observavam bem de perto e o acompanhavam! Foi, todavia, o louco que maior lucidez transportou em si mesmo, em toda a história humana. E, o fraco que maior fortalecimento recebeu de Deus.

Jesus abriu, pois, com toda a autoridade, caminho para um Novo Homem e para uma Nova Mulher, para uma Nova Geração de gente, para uma Nova Espécie espiritual, "semente" de abundância... Para cada pessoa que da sua carne ousar alimentar-se e que vier a beber do seu sangue, metaforicamente falando. Quem nele depositar a sua confiança como homem cem por cento aceite por Deus, que reflecte, de forma clara e inequívoca, a Sua Imagem, a qual ninguém viu e a Sua Natureza, a qual ninguém compreendeu. Quem vier a viver a sua vida como perda e não como ganho pessoal. Quem se aventurar a sair da cidade da sua própria religiosidade e dos seus preconceitos subjectivos e se determinar a ir ao encontro do Cordeiro de Deus que tira, de facto, o pecado do mundo. Parafraseando o autor de Hebreus, quem for ao seu encontro, fora do conforto e longe da anestesia do acampamento, e se dispuser a sofrer o mesmo tipo de desonra que ele se dispôs a sofrer. Ele foi apenas o primeiro a sacrificar a sua existência em benefício de todo o que vier a aceitar o seu exemplo em sua própria vida e se vier a tornar, juntamente consigo, sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; não o único, como nos têm tentado fazer acreditar... Há mais gente "insana" e determinada sobre a face da Terra. O plano de Deus de enchê-la com este tipo de "insanidade" permanentemente repleta de lucidez verá, um dia, o seu integral e cabal cumprimento, (Gn. 1:28; Ap. 21:3-5). Será o dia em que todos os homens oferecerem a sua vida em sacrifício suficiente para remover os pecados de todos homens. Será o Reinado da Liberdade dos filhos de Deus, com verdadeira Justiça e Paz ao alcance de todos e de qualquer um. Muito diferente do que se conhece, para já ou, do que se tem observado até aqui.

Os que teimam em servir no "tabernáculo" não possuem, segundo o autor de Hebreus, o direito de se alimentarem deste tipo de comida espiritual. O próprio Jesus, salientando o mover da Nova Geração, do Novo Homem e da Nova Mulher, por contraposição à sombra ou simbologia da actividade sacerdotal no templo da Antiga Aliança, afirmou que a Geração, o Homem e a Mulher que os precederam, apesar de terem consumido o mais refinado banquete celestial, no deserto, contra todas as razoáveis expectativas humanas, morreram pelo caminho, não tendo, consequentemente, chegado à Terra da Promessa. No sentido espiritual, significa que aquele manjar do Céu do Primeiro Pacto não era, apesar de tudo, alimento perfeito, útil ou suficiente aos olhos de Deus, sendo ainda necessário que viesse o "pão" que por Si viria a ser aceite como adequado para dar vida e vida em abundância a todas as pessoas que dele se alimentassem.



Na realidade, o verdadeiro tabernáculo espiritual, o ponto de encontro regular com Deus e o lugar onde sopra o Seu Espírito é cada homem, mulher ou criança que por Ele se deixar guiar e motivar, no seu quotidiano.

Assim, ouse procurar Deus no seu próprio espírito, sem recurso a falsos e obsoletos mediadores que se interponham entre si e Ele e que se venham, porventura, a tornar seus senhores, opressores eventuais, a quem venha a ter que pagar esperado tributo de vassalagem. Creia na pessoa e no exemplo de Jesus Cristo e na sua descendência espiritual como suficientes para cumprirem integralmente o plano de Deus na Terra. Deseje tornar-se parte integrante dessa Geração.

Esqueça as tradições humanas cuja causa ou razão de ser não faça qualquer sentido para si. Viva livre de preconceitos e faça com que outros se sintam, igualmente, livres. Creia em Deus como o Único capaz de a todos tornar verdadeiramente livres desse produto civilizacional ou cultural a que chamamos consciência do Bem e do Mal e de nos soltar para uma vida guiada pelo Seu Espírito, na qual o Amor deixa de ser jargão inconsequente e passa a ser a Perfeição por Ele observada em cada pessoa que atinge a medida da estatura do cem por cento humano, aceite, preservado e santificado por Deus para reflectir a Sua própria imagem sobre a Terra.

Aprenda a confiar e a depender desse Sopro sobrenatural saído de Deus. Ele é Liberdade! Jamais o(a) aprisionará, de novo... Não tenha medo! Deixe que Ele cuidadosamente insufle suas frágeis "narinas de barro" e Siga-O aonde Ele for. Fale conforme Ele o(a) inspirar. Deixe que Ele transtorne pensamentos e mentalidades que ainda o(a) subjugam. Procure encontrar-se com Deus permanentemente. Permita que Ele o(a) ajude a encontrar-se consigo mesmo(a) e com outros, por maior que seja o seu medo. Lembre-se de que Ele estará sempre junto de si, pronto para curar eventuais feridas, para soltá-lo(a) das suas prisões individuais e para remover todo o embaraço, vergonha ou humilhação que sinta, seja por que motivo for. Permita que Ele o(a) restaure à sua condição de homem ou mulher plenamente digno(a) aos Seus olhos.

Viva de modo generoso e liberal, sensível ao seu mundo interior, assim como ao mundo exterior e às suas necessidades. Partilhe, igualmente, a sua riqueza espiritual, intelectual, emocional e material. Seja guiado(a) por Deus a cada passo.

Tenha uma óptima semana!

domingo, 21 de junho de 2009

On Hatred's Peace

unsettling feeling
of lack of control
ready to burst
into murder

converted into
invisible breastplate
of calmness

providently brought near
by the helpless cry

Amor no Presente

jargão qu'adia
a oportunidade
de voltar a ser

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Graça Domingueira

Manhã cinza
abafada pela tensão
de anunciado crespúsculo
no ar

Sepulcral anestesia
de plateia
parca em entendimento

Verborreia pastoral
mais seca que fogo
Estival

Graça transformada
num martelar sem sentido
no cravo
e na ferradura
da imensa longanimidade
que me parece abandonar
pelos instantes
em que me agito na cadeira
e sussuro antídotos ao meu
ouvido interlocutor

Deixo descair o semblante
contemplativo
do infeliz espectáculo

Não devo ser a única
a fazê-lo
Sei que não sou a única

O palavroso "interpelador"
de massas
lá consegue arrancar-lhes surdo
Ámen

à incongruência
da mensagem
inspirada só pela metade

e revelada a corações
que se recusam
a abandonar à loucura
da divina contradição
de múltiplos caminhos
riquíssimos em equações
inacabadas
e hipóteses
permanentemente interminadas
e abertas ao movimento
de uma Graça por si
desconhecida

mentes que se agarram com contumácia
à estulta tradição

porque foi sempre assim
que nos contaram que era

ou devia ser

e não existe tal coisa como
a Evolução

pelo menos
não para nós
"santos do Senhor"


«Por graça somos salvos,
não por obras; não provem da gente,
é dom de Deus»

No entanto imediatamente
se rebate a anterior ideia
reafirmando-se o desejo de tudo fazer
para agradar
ao Pai

Qual síndroma infantil
de quem em sua insegurança
desconhece a inépcia
das actividades
para fazerem escorrer
tão incomensurável amor
e prazer
do coração de quem
contra todas as estatísticas
o pensou
lhe planeou a existência
e a forma

lhe fundou no universo
material aparição


Ai de quem pense de forma
desigual à nossa
de quem vislumbre cenários diferentes
de quem deixe de visitar os nossos
sepulcros domingueiros
a abarrotar de ossadas
das vítimas dos nossos disparates
pessoais
envoltos em manto de santidade

talhada à nossa imagem
conforme a semelhança
da nossa empobrecida imaginação

inaceitável à razão
e vã para o verdadeiro
conhecimento

Vítimas da nossa pueril (in)sanidade
da nossa (in)sensibilidade auditiva
da nossa (in)sapiente visão
da nossa (in)capacidade de arrazoamento

da nossa (in)disponibilidade
para mudar de rumo e de verdade
que designamos de (falta de)
arrependimento

porquanto Deus será certamente
coerente ser
que pinta quadros culturalmente
todos idênticos
em cinzentos e sensaborões matizes
que nada significam para os transeuntes


A caminho por certo estão da perdição...
Pobres diabos!
Encomendêmo-los à misericórdia divina
já que a nossa não existe

Os outros...
Os outros é que são religiosos


Voltamos para casa ainda mais doentes
do que eramos então
Mais ocos de sentido

Mas só até pronunciarmos uns aos outros
promessas
palavras vivas

de Amor e Alegria
no Espírito

que tão estranhamente teima
em dominar-nos o ser
e o querer ser

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Fermento ou Alimento?


«Quando Efraim falava, tremia-se; foi exalçado
em Israel; mas ele fez-se culpado em Baal,
e morreu.»


«Eu te conheci no deserto, em terra muito seca.»


«Efraim dirá:
Que mais tenho eu com os ídolos?
Eu o tenho ouvido, e isso considerarei:
eu sou como a faia verde:
de mim é achado o Teu fruto»

Os. 13:1, 5; 14:8


«Assim invalidastes, pela vossa tradição o mandamento
de Deus.»


«Não compreendeis ainda,
nem vos lembrais dos cinco pães
para cinco mil homens,
e de quantas alcofas levantastes?


Nem dos sete pães para quatro mil,
e de quantos cestos levantastes?»


«Então compreenderam que não
dissera que se guardassem do fermento do pão,
mas da doutrina
dos fariseus.»


Mt. 15:6, 9, 10 e 12


Outrora

na evolutiva cadeia
das espécies espirituais
dos homens


Quando a Criação gemia
com parturiente
clamor aguardando
grito preso

em crepuscular
garganta

o dealbar
do novo Dia intemporal

Quando se assentava
nas praças do silêncio
prostrada em ruas
e becos de
tangível anestesia


e se agitava
na aceleração do letal
pensamento

inanimada
de fome


Quando congelando
a aparente
indiferença no olhar
se demorava
por populares dias de festejos
inacabados

de oblívio

Quando os seus condutores
tão ébrios

para poderem vê-la

claramente

se juntavam uns aos outros
em esforço inútil
para curar-lhe a "alma"

amortalhados
pelos estertores
do Teu poder
então inexistente
para eles


e para os que os seguiam
em templos geracionalmente

esculpidos
por mãos humanas

frágeis
débeis
sem vida

Enquanto invalidavam
o primado do Teu Amor
recorrendo ao código
fácil do Teu Nome

sem nunca
Te terem contemplado
da altura do Teu monte
sagrado

ou vivenciado atormentadora
paixão dilacerante
que prende
para sempre

orvalhando o sono
dos que de Ti

sentem saudade
em suas camas

Quando dizimavam
a honra devida ao seu
próximo
em gananciosa oferta
de rapina

moeda trocada

por Tua Graça


Sacudiste a minha aridez
qual poeira desértica

Juntaste todos os meus ossos

Sopraste outra vez em
minhas narinas de barro


Puseste-me a caminho
da minha Morte

ao encontro

da tua Geração
em mim há muito formada

do meu exército privado
de homens sem valor

do legado eterno
que só Tu em verdade
conheces


Não sei como me guardaste de tão inebriante
fermento humano

Estive próxima da vil sepsia
doutrinal
prestes a casar por carnal
conveniência

ou questão de sobrevivência
cultural

Felizmente

nomeaste anónimos

medíocres

apóstolos
profetas
evangelistas
pastores
mestres


sem especialidade ou título
no meio das gentes


a quem escutaram pecadores
entendendo sem que lhes pronunciassem
palavra


porque seus corações
estavam prontos


para Teu alimento
o fundamento eterno

lançado em cestos urdidos

pela perfeição de Teus dedos

How Deep the Father's Love for Us

terça-feira, 26 de maio de 2009

Love Prospectors

They had gold in their hands

but favoured it to slip away

squandered through their fingertips

with Providence's awing blow


And they took in its departure

whilst frozen by unseeable zephyr

Their restless quest exposed the polysemous

betise of human passions


Why would they prospect for gold

only to consign it to its own fortune?


In response the invigorating breeze

which exempted it from impoverished fate

announced the sweltering judgement imminency

unalloyed Au alone should survive

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Antisepsis

Pushed undercoat
by sterile gauze
I lose
my beauty
the sunshine
You gave me

Yoked
by antisepsis
making me fearful
not lovable
I sleep cowardly
with the foolish kind
of wise

instead of learning
to love


I distrust them

for I've seen
what they're capable of
in armoirs
of secret skeletons
though
convincing otherwise


I seem to understand
the man from Galilee
better these days
as he walks among
the putrid
infectious

downtrodden of Nazareth

of whom by chance
I became a part
and so prefer to exchange
my holiness for their sin

as I've seen

it's better to be
sinful rather than
become childless
hidden in the dusky closet

of drunken probity


For what is justice?
What is godliness?

What is love?

Except for me to stand
before You face to face

and be moulded by your
shine and revealing
thoughts

terça-feira, 5 de maio de 2009

Da Natureza Revisitada ou o Dealbar de um Novo Dia




De profundis clamavi ad te, Domine

Revisitando lugares
por Ti
despertos em mim
tornados Vida
ardente expectação
inclino-me
pego em sementes
deliberadamente lançadas
nos sulcos do meu espírito

Trago à memória Palavras
inscritas no branco
da madeira talhado
com tinta humana

Promessas de curso de água
qual fluxo emanado da cabeça
de um rei

conduzido por Teu Espírito

a lugares secos escabrosos
da popular cultura eclesiástica
assumida por Teu Povo
por demasiado tempo

sem resultado

Mostras-me a glória da segunda Casa
do novo Templo espiritual
não absorvido pelas coordenadas
do espaço e do tempo

Guias-me
através de Teu irresistível olhar

Abres outra porta diante de mim

Aparição de novo caminho
que é afinal desde a eternidade

Sei que serás minha vanguarda evolutiva
meu devir histórico

Assentar-Te-ás à minha sombra
surpreendendo incessantemente
meu Devorador pessoal

Fazes-me promessas de Amor
juras à minha posteridade

Dizes que nela confirmarás
a obra saída de minhas mãos
e as palavras de minha boca

A tantos quantos meu coração
se entregar
por Amor de Ti
por quantos vier a morrer
para guardar com Vida
Tua aliança que permanece
intacta para sempre

A tantos quantos me deres

prometes que serás seu ouvido
e seu entendimento
que tomarão posse da Terra
juntamente com todas
as Tuas gerações


Dás-me sonhos humorados

Fazes-me viajar por quadros
bem pintados em tela
de complexa simplicidade
entrelaçada

Mostras-me religiosos
assim como "ímpios"

Quem aguarde "hóstia santa"
e quem tenha fome de letras vivas

«Aos primeiros, os das hóstias simbólicas»
dizes jucosamente
«não lhes será dado mais
que "batata frita"»

passada por Teu óleo escaldante
óleo que queimará o que quiseres
e pelo sal
que lhe conferirá agradável
paladar

Pelo espanto em seus rostos vejo
que ainda não Te contemplaram
de verdade
Deixa, então, que provem Teu
delicioso appetizer

«Um Livro
será colocado à mão direita
dos últimos
os que supostamente Me não buscam
dentre poderosos
intelectuais
ateias e banais celebridades
e outras vaidades

o qual degustarão
com particular deleite
e em si estará presente
quando se assentarem em juízo
julgando Nações, Povos e seus Príncipes»


Vejo igualmente um mercado
onde a agitação dos que limpam
e vendem peixes
é verdadeiramente desoladora

Lá me encontro observando
quem procura comprar
pelo menor preço possível
assim como quem intenta vender
sem grande lucro perder

É visão angustiante
pois sei que é tempo de crise individual
de profusas trevas sobre a terra

e não escolheram a melhor parte
a que prometeste a dado passo
que não lhes seria de modo algum
roubada

A meio do sonho, um rosto
familiar

Trata-se de alguém que caminha publicamente
exibindo um sorriso
Mas cujo espírito vejo aqui
desorientado
mortificado por intensos trabalhos
quase inúteis

A certa altura é-lhe trocada a
posição geográfica no mercado
Mas nem assim se esfumam
a perturbação e o cansaço
daquela linda face
cedo designada para espelhar
a Tua glória

Fico obcecada com a revelação

Quem me dera soprar-lhe
da sublime contenença
toda a espessa nuvem

de bafientas preocupações gestativas
e típicos receios de parturiente


Agarram-se a metodologias corroídas
pelo tempo
a processos historicamente rançosos

pretendendo
chegar ao fim com vida
não a Tua, mas a sua

Tendo Tu de antemão advertido
quem quisesse salvar a sua alma
que acabaria por perdê-la

Estes fizeram do Teu Templo
quatro paredes de concreto

e da Tua Herança massas anónimas
de gente

invisível por maior destaque
que lhe seja dado no palco

inaudível por maior que seja
a amplificação do grito
dolorosamente sufocado
em suas gargantas

intocável
pobre
em seus gélidos e inseguros
abraços

que precisa ainda de Teus profetas
para saber que Tu a observas
atentamente

detidamente

e a consideras Realeza
lugar de Nobre Aliança
e de firme potencial

Cambistas e homens de negócio
juntamente
profanaram Teu lugar espiritual
de culto
fazendo dele o que jamais ocorrera
ao Teu Espírito fazer

apegando-se a clerical padrão
no âmago
fatalmente ferido

escondendo-se em penumbroso cenáculo

negando o sopro que enviaste
para movê-los
a fim de pô-los em marcha
impelindo-os para as ruas

do Teu testemunho

onde se assentam os presos
em frias cadeias tenebrosas

lugares por onde jazem
estropiados cegos
adormecidos
desprovidos de entendimento
e de visão
sem caminho aberto diante de si

sem ouvidos aptos
para escutarem o Teu Som

peixes de todas as dimensões e espécies

por Ti

cultural
civilizacional
espiritualmente

considerados

Esquecem o profético episódio
em que Teu Filho se viu
compelido a remodelar-lhes
o paradigma de culto

expulsando os que vendiam
como os que compravam

obrigando-os
por força de distintas
circunstâncias
a sair do confortável lugar
escavado na penumbra
das coisas que apenas possuem
aparência de santidade

deitando por terra as mesas
dos que trocavam a Tua moeda
por outra

e as cadeiras dos que vendiam
pombas intentando
aprisionar Teu Espírito
em torno de seu próprio desígnio

de sua tacanha visão terrena
sobre medíocres
métodos de frutificação
implementação e crescimento
de um Reino nascido

em Ti
de Ti
por Ti
para Ti

que é afinal escândalo
para os da Tua própria Raça

e loucura para os que se consideram
sabiamente instruídos
por Teu conselho


Mas Tu escondes-Te
em quem não tem já medo
de cavalgar nas asas do Teu vento

de arrazoar juntamente
com Tuas múltiplas linguagens
culturais

de buscar-Te com saudade
no Teu esconderijo

porquanto não teme o homem
nem seus esquemas vulgares

e descobriu o Amor que lhe foste
entretanto aperfeiçoando
ao longo da experimental jornada

Descerras então as cortinas
para que se veja
a mesa infinita do Teu banquete
real

e todos os Teus convivas

majestosamente sentados


Um novo dia nasce mais uma vez
alvejando o horizonte
do meu coração

terça-feira, 10 de março de 2009

Exilados - II

«Cantem ao Senhor um novo cântico,
seu louvor desde os confins da terra,
vocês, que navegam no mar,
e tudo o que nele existe,
vocês, ilhas, e todos os seus
habitantes.
Que o deserto e as suas cidades
ergam a sua voz (...)»
Is. 42:10, 11a




Conclamados


Despertos por um novo cântico matinal


Assim acordaste Teus deportados



Levantaram-se


Despertaram-Te


como a um guerreiro entusiasmado


pelo vinho novo do Teu Espírito



Tal és Tu


Paz para os que Te encontram


homem de guerra


para os que Te oprimem


para os que oprimem a Tua herança



Grito vibrante na peleja


Suscitas um novo canto


em nossas gargantas


Tanges as Tuas cordas eternas



Não mais silêncio


Coração excitado


por Tua forte bebida



Doxologia perfeitamente extraída


das bocas de criancinhas de colo


que por sua singela maneira de ser


se dispõem a Teu arremesso



a visitar lugares ocultos


à memória dos homens



a navegar


em Teus mares


onde mergulha


toda a sorte de peixes


pequenos e grandes


e se banham outras criaturas



variedade incessante do Teu Amor



a ser porção seca


rodeada por Tua enchente


isolada por Teu mar



a ser deserto


árido e estéril


por um tempo


ou tempos


ou fracção de tempo



sinal para muitos


que Te procuram


sem Te acharem


sem reconhecerem Tua santidade


invisível




Dá-nos um homem que seja


limite


mar


ilha


deserto



para que testifique


e faça aparente


o que se não vê



Não nos dês ajuntamentos inúteis


possibilidades infinitas


terra firmemente familiar ou conhecida


amizades superficiais


que continuamente nos abracem


ou fontes que nos impeçam de ter


outra vez sede de Ti



Dos limites da terra


dos mares


das ilhas


dos desertos


extrairás louvor agradável


e os marcarás


como sinal perpétuo


aceitável e perfeito


para aqueles que os observam



Então será finalmente


reconhecida a tua justiça


e visível a santidade que transportam


os exilados do mundo