quinta-feira, 22 de maio de 2008

Contradição da Dúvida versus Certeza do Amor

No princípio, era a Palavra Viva e Fiel.
A que não mente em hipótese alguma, nem para salvar a própria pele. Aquela que transmite serenidade e paz no dia da insegurança e da intranquilidade.
Tu estavas lá, passeavas com Ela, no jardim. Convidava-te a momentos em que a solitude era, por ambas, verdadeiramente apreciada, porque partilhada de igual para igual, face a face, sem esquemas ou suterfúgios, porque sabias que eras realmente amada, apreciada e isso fazia com que tivesses vontade de amar de volta e saboreasses cada átomo da frescura do fim de dia.

Um dia percebeste finalmente...
Estavas viva, realmente viva!

Escutaste atentamente o conselho que te foi dado.
Era essa Vida que devias procurar sempre, encontro marcado ao entardecer.
Entedeste que para Ela, o único critério válido da tua própria existência era o poder que de Si mesma emanava, fluindo como um rio que se renova todos os dias, l(a)vando o que é velho e bafiento e trazendo coisas novas, do mesmo passo que vai restaurando a vegetação, junto à margem. Só o seu fruto te saciaria na devida medida da tua voragem. Apenas a respetiva folhagem te daria abrigo e remédio, no dia da enfermidade.
Sabias que conhecer simplesmente o bem e o mal, o certo e o errado e todos os demais conflitos e contradições existenciais, te separaria daquela Vida, te faria definhar lentamente até expirares, por fim.

«Como é empolgante viver da abundante novidade continuamente!»
Davas por ti a pensar, enquanto deixavas o sorriso escapar pelo canto dos lábios.

Foi, então, que reparaste naquele outro ser fascinante com quem gostavas de comunicar, de vez em quando. «Por que não podes experimentar um dia diferente, sem Vida? Já sei! Aquele teu grande Amor quer, na verdade, manipular-te, fazer-te crer que a lógica do certo e do errado ou do bem e do mal te pode, afinal, roubar o sentido da existência... O que deseja, realmente, é que os teus olhos se quedem cerrados, para que não vejas as outras maravilhas!»

Não pestanejaste nos breves instantes em que o inesperado tiro da dúvida alvejou o teu coração. «E, se é verdade? Se não há, afinal, risco algum em provar o sabor do fruto da outra árvore tão atraente? E, se ela me matar, igualmente, a fome? Se me fizer crescer em sabedoria? Será que estou, realmente, a ser manipulada?»

A célebre dúvida, assassina de relacionamentos cúmplices, destruidora de intimidades, a dúvida que rouba a vida!... Pérfida insinuação, que a todos ilude com seus esquemas vulgares de lógica aparente, que se instala ao de leve, cobrindo-se de vestes de iluminada sabedoria, víbora traiçoeira, afinal, mordaz de todos os modos, sanguinária, alimentando-se ferozmente das próprias carnes! Sabia que cairias facilmente em ardiloso diálogo...

E, a ti?
Apeteceu-te sair para experimentar aquilo que já conhecias?

Quis adonar-se do que era já seu por direito?
Passar a ser quem era? A possuir a Vida e a Sabedoria, que já detinha?

Assim, nasceu e ganhou, entre nós, raízes, a contradição fundada na dúvida latente e persistente, que decorre da falta de diálogo com a própria Vida.
A questão impôs-se, logo.
Haverá, alguma vez, remédio para quem padeça de semelhante maleita?

Primeiro veio a Lei, com seu coração imaculado, mas que não podia ser integralmente cumprida por ninguém, atração irresistível, força de gravidade insuperável que era, então, a gritante dúvida. Depois, a alegoria, simbologia de todas as eras, sombra de coisas a demonstrar futuramente. A nação-exemplo no meio de todas as outras. Parábola narrada durante séculos a fio. Profecia universal. Depois, ainda, o silêncio, pausa dramática que precede a superlatividade do momento.

Finalmente, a própria Vida. A que era ao princípio Palavra Fiel.

Viste?
Chegou perto de ti, tocou o teu coração ferido de morte, livrou-te da contradição da dúvida!
Não te jogou em rosto o passado. Perdoou-te. Sim, perdoou-te, incondicionalmente, a loucura!
Soubeste, outra vez, que te amava, sem esquemas ou suterfúgios. Que jamais te manipulara, afinal. Que foras, na verdade, ludibriada por quem permanentemente questionava o vosso grande Amor.

Ah! Como dançaste, nesse dia!
Foi suave à vista o teu cantar e o teu doce rodopio fez ecoar a liberdade!

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